Desde que eu decidi com toda a força do meu coração bancar esse movimento de mudança muitas pessoas me desafiam com perguntas do tipo “Tá bom, Lucila, então você acha que o caminho certo é esse de viver sua paixão e seu propósito e que todo o resto do mundo que não faz isso tá errado?”
Pergunta capciosa essa. Ela ja se repetiu várias vezes e hoje eu resolvi fazer um compilado de todas as respostas que concedi a essa pergunta:
Não tem certo, nem errado. Tem o que faz sentido e o que não faz sentido. É o bendito “feels right”. E essa história de fazer sentido é individual e intransferível. Cada um tem que saber responder por si e eu vou contar um pouco do que HOJE faz sentido para mim.
Para mim faz sentido dedicar um pouco de tempo do seu dia, da sua semana, da sua vida para se conhecer.
Caramba a gente perde um tempo absurdo pra tentar entender o outro, mas quem é a única pessoa do mundo com quem você vai conviver até morrer?
Se a gente não se conhecer a fundo, do que gosta, do que não gosta, do que faz bem pro seu corpo, mente, emoções e espirito e além de se conhecer não se dedicar minimamente e fazer nossos gostos que merda de vida estaremos nos propondo a viver?!
Para mim faz sentido me dedicar às pessoas que são aquilo que eu gostaria de ser.
Eu acredito piamente que somos uma média tosca das pessoas com quem convivemos. Reparta seu dia com pessoas rasas, preconceituosas, reclamonas, afobadas, agressivas, distraídas do que importa para elas, recalcadas, amargas e repare bem para onde vai sua vibe. Agora passe a conviver diariamente com pessoas alegres, conscientes, tranquilas, autoresponsáveis, generosas, sábias, amorosas, gentis e perceba como isso te afeta.
Para mim faz sentido trabalhar e servir quem eu admiro plenamente e não apenas em função de sua posição social.
Onde está a lógica de vender (muitas vezes por menos do que vale) minha mais valia para pessoas insensíveis, que muitas vezes não respeitam nem mesmo a si mesmas (seu corpo, suas emoções, suas idéias) nem às suas famílias? Qual a finalidade de passar 6, 8, 12, 14 horas do meu dia com uma pessoa que eu não admiro? Obedecendo aos seus desmandos, fazendo uma, duas, três vezes uma atividade que não tem o menor sentido pra mim… Às vezes me pergunto: onde eu estava com a cabeça quando fiquei pelo menos 8 anos da minha vida investindo – meu próprio dinheiro – em educação para atender às vontades de pessoas e/ou organizações que não se filiavam ao que se passava no meu coração?
Para mim faz sentido investir minha dedicação e sapiência em atividades que eu compreenda o propósito do começo ao mais profundo dos fins.
E os dias, noites e madrugadas que passei fazendo apresentações, relatórios, memorandos ou o raio que o parta que eu sequer sabia para quem era? A única coisa que muitas vezes eu ouvia é que era algo muito importante, muito relevante, e que eu deveria estar me sentindo muito honrada por receber a confiança necessária para fazer aquilo. “Bulshit”. Conforme eu ia subindo na cadeia alimentar era me dado o privilégio de estar presente e às vezes até apresentar em uma reunião com todas essas pessoas-muito-importantes, mas e dai? No fundo, eu continuava sem saber ao certo para quê serviria aquilo, quem seria impactado, quais os riscos, quais os efeitos colaterais. Não via sentido algum em passar meu tempo me sentindo uma peça de uma engrenagem da qual eu não conhecia integralmente os reais propósitos.
Para mim faz sentido gastar meus recursos da forma que eu bem entendo.
Eu gastava meu tempo, minha energia e meu dinheiro para me distanciar da minha essência. Esses recursos eram aplicados para que eu me mantivesse próxima de pessoas que não eram quem eu gostaria de ser, para trabalhar e servir pessoas a quem eu não admirava plenamente como seres humanos e para fazer atividades cujos fins mais profundos eu ignorava.
Raios, qual o sentido de se viver uma vida assim?
Por último, para mim faz sentido ganhar o suficiente para atender à minha real identidade e para bancar o estilo de vida que escolhi viver.
Nesse último ano aprendi a viver com menos. A ter hábitos mais simples. A me importar mais com a companhia do que com o lugar do encontro. A dar presentes condizentes com a minha realidade financeira e não com a realidade do outro ou para atender a padrões de uma sociedade maluca por consumo. A comer mais em casa. A usar mais vezes a mesma roupa, o mesmo sapato, o mesmo brinco. A andar mais a pé. A não me iludir com créditos bancários. A gastar o que eu tenho e pagar à vista com desconto. A expor minha vulnerabilidade financeira e negociar prazos, sem juros. A cativar parcerias. A permutar serviços.
E, sabe, algo incrível aconteceu… eu não morri, nem matei ninguém.
* * *
Ao que me indagam “Ok, Lucila, mas e se todo mundo pensar assim como você o que será das empresas, das organizações, das repartições públicas, das instituições financeiras?”
Honestamente, não sei. E, confesso, também não estou muito preocupada em ser euzinha a solução para esse problema. Sinto muito. Mas me habilito a ajudá-los a pensar criativamente a respeito de alternativas, mediante pagamentos justos. Afinal, só eu, minha mãe e Deus sabemos o preço pago para se chegar até aqui. Mas acredito que com diálogo e empatia, tudo se ajeita e juntos podemos desenhar soluções não-apocalípticas.
“Como será o mundo onde as pessoas se rebelarem e só fizerem aquilo que faz sentido para elas?”
O mundo poderá ser um lugar muito melhor e muito mais legal de se viver 🙂
Passar grande parte da minha vida vivendo esse modelo sem sentido, com essas pessoas e essas estruturas organizacionais foi das coisas mais tóxicas que já fiz na vida. Sou grata a tudo isso porque me ensinou o que eu não quero, o que não faz sentido, o que me faz mal.
Acredito de verdade que se o capitalismo é mesmo o melhor sistema econômico possível ele vai dar um jeito de se reinventar. Ele será incrível o suficiente para se adaptar às necessidades das pessoas ao invés de forçar as pessoas a se curvarem às suas demandas insanas.
Acredito que nosso compromisso é com a gente mesmo. E que se o honrarmos direitinho poderemos acessar a melhor versão de nós mesmos e seremos a melhor pessoa que poderemos ser. Nessa lógica, seremos os melhores pais/mães, chefes, empreendedores, colaboradores, parceirxs, amigxs, que temos a capacidade de ser. Seremos mais eficientes, mais produtivos, mais conscientes, mais dedicados. Trabalharemos melhor. Serviremos melhor.
Acredito que não precisamos virar o mundo de cabeça para baixo, precisamos só erguer nossas cabeças e vivermos com a dignidade, o respeito e a autoestima que por direito natural temos a obrigação de viver.
*TEXTO PUBLICADO ORIGINALMENTE NO MEU PERFIL DO FACEBOOK