Isto ou Aquilo? – Sobre a arte de fazer (boas) escolhas

Nem é preciso sentir na pele o senso de desorientação por não saber o que se quer da vida ou espremer o peito, angustiado, por estar em um momento decisivo e não saber o que fazer, ou ainda, arrepender-se de morte diante de uma escolha consumada para saber que escolher é difícil. Dificílimo.Escolher é a arte de saber renunciar.

escolhas paradox

Mais especificamente, o bem escolher, é a arte de saber o que se quer. Todo mundo quer ser feliz, bem sucedido, amado, próspero, mas poucos sabem como é que se faz pra chegar lá. Ou o que querer, dentre isto ou aquilo, como parte do processo para se chegar lá. A grande verdade é que os nossos problemas começam muito antes do momento de decidir.

Se seus botões apontam para o fato de que o mundo está complexo demais, sofisticado demais, sabido demais e que em meio de tantas opções nunca foi tão difícil fazer escolhas, sinto em informar, mas eles provavelmente estão certos. É como se passássemos os dias de encruzilhada em encruzilhada. De “e se…” em “e se”. O Paradoxo das Escolhas reside justamente na abundância de opções, que ao invés de facilitar paralisam, angustiam e geram ansiedade.

Ok. Mas se a realidade do mundo moderno dificilmente retrocederá e a tendência é que as possibilidades aumentem cada vez mais, como escolher?

Talvez a primeira questão a ser respondida seja você quer o que você deseja?

Não é preciso ser psicanalista ou filósofo, basta ter sangue bombeando nas veias, para saber que carregamos dentro de nós um conflito de interesses constante e sem fim: a batalha dos desejos. De um lado, amotinadas, estão as coisas que você realmente quer, suas vontades mais genuínas, aquelas que uma vez satisfeitas te remetem ao êxtase da satisfação. Do outro, nas trincheiras – sim, são muitas as trincheiras – estão as coisas que os outros querem que você queira. Aí estão os quereres da sua família, amigos, a sociedade, o senso comum, a mídia, as instituições, a tradição. Quereres tão difusos e pulverizados que às vezes fica difícil saber o que realmente é seu e o que foi inspirado por engano enquanto você simplesmente existia.

No afã de sermos queridos, aceitos e reconhecidos vamos deixando a autenticidade de lado. O medo da solidão, da polêmica, da incompreensão ensurdece. No meio do tiroteio fica difícil se escutar. O problema, é que se parássemos para nos ouvir, escutaríamos nosso coração gritando que talvez ele nem queira tanto ser tão competitivo, vitorioso, descolado, bem-sucedido, sociável, sarado, inteligente, rico e sedutor quanto se imagina… E isso também faz sofrer.

A filosofia Hindu chama de véus do desejo tudo aquilo que turva a nossa vista carregando-a de ilusões e que nos impede de entrar em contato com nossa essência e querências mais genuínas. A ilusão é externa, vem de vontades externas. Daquilo que esperam de nós. A ilusão geralmente vem atrelada à posse, ao controle, ao apego. Em oposição à ilusão está a verdade interna. O que faz o coração bater mais forte. A ilusão de um modo geral demanda recursos (energia, tempo, dinheiro). A verdade, em regra, gera recursos e reabastece nossas reservas.

Conheça a [sua] verdade e ela te libertará. A verdade fortifica, empodera, energiza.

Quais são, afinal, os desejos autênticos? Aqueles que moram desde sempre no nosso coração.  Como reconhecer a verdade? Conhecendo-se. A boa notícia é que a verdade já mora dentro de cada um de nós. A má é que acessá-la não é fácil, pelo contrário, pode ser bastante demorado e dolorosos.

Para este caminho não há atalho, nem manual de instruções. Platão bem que tentou dar um nome e contar uma história. Mas nem o agatos (perfeição, excelência, bem querer) nem sua alegoria da caverna foram capazes de ensinar como identificar quais e de onde vêm essas vontades legítimas que embasariam escolhas mais perfeitas e felizes.

No fundo, só nós sabemos – e podemos de fato acessar – qual escolha nos trará os melhores resultados. Entretanto, especialistas das mais diversas áreas, economistas, sociólogos, filósofos, psicólogos, chegaram a um consenso sobre o quê nos sustenta escolhas mais acertadas. Existem necessidades básicas, que uma vez supridas, nos dão o alicerce para suportarmos o (eventual) peso das decisões difíceis. Para alguns são nove, para outros três, mas a que mais gosto resume-se a cinco: emoções positivas (afeto, amor, prazer); engajamento ou flow (prazer de criar, desenvolver habilidades); sentido (pertencer e servir a algo maior que si mesmo); realização (conquistar o que se quer, estimar o que se tem) e; relacionamentos positivos.

Uma vez constituída uma base sólida, fica mais fácil encarar um processo de autoconhecimento e transformação – esse processo contínuo, infindável, custoso, mas inegavelmente satisfatório, encorajador e libertário. E, assim, dispor da munição necessária para encarar a guerra dos desejos.

Eu ainda estou tentando desvendar o passo-a-passo, mas acredito que o primeiro deles é ir a campo preparado psicológica e emocionalmente, sabendo que escolher não é fácil e que necessidades básicas precisam ser supridas. O segundo é fazer uma lista do que não se quer de jeito nenhum. Acredito que limitar o espectro de escolhas, de antemão, ajuda a minimizar as chances de decisões impensadas. O terceiro é não ter medo de tentar, entregando-se verdadeiramente às experiências, no mais das vezes, o melhor jeito de saber o que se quer é experimentando mesmo. Eu comecei treinando com coisas pequenas, que permitiriam arrependimentos de baixo custo. Atenta ao que sentia antes, durante e depois, afinei meu ouvido. Passei a conseguir ouvir melhor meu coração. Tentativa e erro mesmo. Mas hoje sei que consigo escutá-lo melhor.

Por último, mas muito longe de ser o menos importante, ESCOLHA. Simplesmente escolha. Aja! Tome decisões. Enquanto não escolhemos todo um universo de possibilidades fica à disposição, mas é impossível usufruir e gozar de qualquer uma delas.

(Lu Lobo)

6 comentários sobre “Isto ou Aquilo? – Sobre a arte de fazer (boas) escolhas

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