Quando a Paz pede passagem à Justiça

peace 5

“O mais belo fruto da justiça; é a paz da alma” (Epicuro)

“O fruto da justiça será a paz; e a obra da justiça proporcionará tranquilidade e segurança eternas” (Isaías, 32:17)

“Hey joe,

O que o teu filho vai pensar

Quando a fumaça baixar?

(…)

Também morre quem atira”

(Hey Joe, O Rappa)

Quando estava na faculdade e o professor de Filosofia do Direito citou Epícuro, tive a impressão de ter entrado em contato com umas das verdades mais absolutas da vida. Parecia uma criança que tinha acabado de aprender a falar uma palavra nova. Citei essa frase nos mais diversos contextos: para falar de justiça social, de política, serviços públicos, investimentos, decisões judiciais e até para justificar posicionamentos pessoais bastante recentes.

Hoje – não hoje em dia, mas hoje, hoje, dia 24 de agosto de 2015 – eu ouso discordar.

Não só discordar, mas pensar justamente o contrário: a Justiça é que é fruto da paz. Não falo sobre qualquer justiça. Falo da Justiça que acomoda interesses, ao invés de os sobrepor. justiça que contrapõe interesses prolonga acertos de contas de uma equação que não fecha nunca.

peace 3

Como já dizia o filósofo de botequim, no olho por olho, dente por dente, todo mundo acaba cego e desdentado. É injustiça prolongada. E infeliz.

Defender uma tese que contraria Epicuro ou a Bíblia parece pedantismo, mas se adicionarmos felicidade a essa equação, talvez fique mais simples demonstrar onde quero chegar. Justiça antes de paz, pressupõe a existência de vencedores e perdedores. Alguém na história fica sem olho ou sem dente. Para cada interesse satisfeito, há um ego insatisfeito. E infeliz.

Pergunto, onde fica a paz nessa história? Ou melhor, paz para quem? E, se há paz só para um lado, resta inquietude, indignação e, por quê não revanchismo, do outro.

Por outro lado, consciências em paz são completas por definição. Elas não precisam mais de justiça.

Quem está em paz, já acredita que aconteceu o melhor que poderia acontecer. Se a premissa é essa, a justiça reparadora já não faz mais sentido, porque ela não agrega. Punir é inútil.

Quem está em paz acredita no ganha-ganha porque sabe que tem para todo mundo, não é preciso tirar algo de alguém para tentar ter paz.

Quem está em paz, não precisa ver o outro insatisfeito para satisfazer-se.

Quem está em paz, quer mais é ver o outro em paz também, porque sabe que paz é um estado de ser.peace 2

E como estado de ser, dispensa rótulos, declarações, reparações materiais, troféus. Como estado de ser importa-se mais em expandir do que limitar; facilitar do que insistir; inovar do que fazer mais do mesmo; ceder do que impor.

A verdadeira Justiça – aquela capaz de proporcionar felicidade e satisfação à todos – , vem mesmo é depois que se alcança a Paz.

(L.A.M.L.)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.