Agosto foi o mês do quase. Nunca acreditei na superstição de que esses 31 dias carregam consigo as insanidades de um cachorro louco. Enganei-me.
Em agosto li filmes, assisti livros, devorei músicas, engoli vozes que raros são capazes de beber em nossos ouvidos. Embriaguei-me com água e fiquei sóbria com álcool. Dormi acordada. Despertei-me enquanto dormia.
Em agosto, vi-me quase capaz de aproveitar a vida sozinha, sem precisar de ninguém. E, quase me senti carente por querer uma testemunha para o contentamento vivido só.
Cheguei perto de respeitar o sentido da entresafra. Aquele recesso que a terra precisa para um novo começo. Mas não deu. Foi um mês de quase recessos e quase começos.
Agosto me apresentou uma soma infindável de perdas e ganhos, mas sem me levar a um resultado final. Também quase não houve pausas. No máximo vírgulas erradas. Separei sujeitos de predicados. E, fui incapaz de colocar pontos finais.
Em agosto, quase desisto de enganar a falta que sinto de certas pessoas e aliviei-me por respirar bem ao lado do que(m) se tem. No final das contas, percebi-me perdida entre a saudades do que poderia ter sido e o alívio de me ausentar do que quase aconteceu e não foi.
Fiquei próxima de concluir que não ser inteiro é uma forma de quase maluquez. Não consegui. Não pode haver lucidez naquilo que é pela metade, como não poder ser completo o que é feito sem doses de loucura.
De quase em quase, o mês chegou ao fim. Mas assim como alguém que cruza um rio a nado é incapaz de chegar à outra margem sem levar consigo um pouco daquela água, cheguei a setembro respingando a agosto. Agosto passou por mim. Eu não atravessei agosto.
(♔L.A.M.L.)