O engraçado é que a gente já se conhecia há algum tempo, mas aquela foi a primeira vez que enxerguei você. Em resposta àquele seu olhar, pensei: eu quero. Eu quero, certo? Não. Não me parecia certo. Não sabia se devia. Se podia. Seria aquilo permitido? Sei lá. Quando a vontade bate, fica difícil distinguir o querer, do dever, do poder. Só sabia que naquele instante tive a exata dimensão do que era precisar. Quando a gente sente que precisa, pouco importa se é permitido ou proibido. Porque desculpa a gente inventa. Pros outros. Pra gente. Agora o querer não. Vontade não é bicho que se cria. Ela, simplesmente, nasce.
É. Eu agora sei como é. Sei também que você, como eu, também sabe.
Da primeira vez eu não podia. Da segunda, eu podia, mas não devia. Da terceira, eu também não devia, mas queria. Era só questão de tempo. Não sei se foi seu olhar, sua mão na minha, ou suas palavras no meu ouvido uma, duas, três vezes. Na verdade, pouco importa o que ou o quanto foi. Mas foi. Aconteceu. E a única certeza era que seja lá como tinha de (não) ser, era pensável, mas inconcebível, para mim, parar ou simplesmente voltar atrás. Eu precisava continuar. Ainda que fosse só pra confirmar que não poderia dar certo.
Pra você também foi assim?
Não. Senti de uma só vez, o que para você veio à prestação.
Quis emendar: E, a vontade? Você mata uma vez só? Ou é preciso parcelar em muitas vezes para dar cabo nela?
Não sei se pela audácia da pergunta. Ou se pelo receio da resposta. Contive-me. A independência era minha. O impedimento era seu. Preferi deixar em suspenso. Despedi-me e, liberei-me da ansiedade do precisar saber se você sentiria vontade de me ver de novo.
Você sentiu. A cada nova procura me fez feliz. Até hoje fico na dúvida se o que me encanta são suas sucessivas confirmações, ou se as desculpas que você inventa para saber de mim. Fato é que eu sinto nas suas palavras o eco do que vai pelo meu coração. São muitas as incertezas a respeito de quais os caminhos que farão nossa história dar certo, mas apesar disso, e a despeito do eu solteira, você sozinho, nossas vontades estão de mãos dadas.
Eu sei que pode não ser sempre. Mas é sempre que pode. Eu sei que apesar do não poder, sobra querer. Porque eu quero muito, muito você comigo, mesmo que de vez em quando. Por mais contraditório que possa parecer, fico feliz em sentir sua falta. Precisava mesmo voltar a saber como é que é ter vontade de estar com alguém.
Perto, longe, tanto faz. Curioso que mesmo quando não estou diretamente pensando em você, sinto um pensamento constante a seu respeito, como a trilha sonora de fundo que acompanha as cenas dos filmes De você, importa-me apenas saber se está bem. Fez um sol lindo no sábado, e eu preciso saber se, como eu, você também conseguiu aproveitar a praia. Se deu um mergulho. Se foi dar aquela corridinha no final do dia. Se tomou uns chopes no seu bar preferido. Se comemorou o gol dos quarenta-e-seis-do-segundo-tempo. Se teve tempo de fazer as coisas, as quais sabemos que apesar de separados, temos vontade de fazer juntos.
Não sei explicar o porquê de ficar bem, quando longe, em pensar nessas coisas todas, que supostamente você está fazendo. Na verdade, sei sim. É porque eu sei que é questão de tempo até eu estar de novo te beijando de bom dia, enquanto calço os sapatos, coloco os óculos escuros grandes e sinto meu coração pulsando forte. É questão de tempo até estarmos juntos de novo com minha mão na sua e, você me apertando no seu abraço até que eu sinta que o mundo gira, às vezes, apenas para nós. É questão de tempo até não termos mais que nos preocupar com a incerteza dos encontros.
É, menino. Eu gosto, e muito, de você.
(♔L.A.M.L.)