Será que você precisa mesmo de coaching?

Fazer coaching está na moda. Por mais que, como coach e fundadora da LULOBO Coaching e do PATHS – Caminhos com Sentido , eu queira atender ao maior número de interessados, é possível que neste momento você não precise de mim. Então preparei esse texto para que você só procure um profissional como eu se estiver, de fato, no momento propício para isso, pessoal e profissionalmente.

Se você tem dificuldade de tomar decisões, sejam elas de natureza pessoal ou profissional, você não precisa de um processo de coaching, mas de counseling. Um conselheiro pode ser contratado, com base no seu profundo conhecimento sobre um tema específico, ajudá-lo a sentir-se mais confortável ao fazer escolhas difíceis. Em vez de um processo, o trabalho é bastante pontual e pode se restringir a uma única reunião: você pede e recebe aconselhamento e a relação termina. Se você não quer pensar a fundo sobre um determinado tema, apenas ouça os conselhos. A partir daí fica a seu cargo como aplicar as informações obtidas ou como executar sua decisão.

Se você quer ser acompanhado de perto por um profissional experiente que compartilhe aprendizados e mostre o caminho das pedras, você não quer um coach, mas um mentor. A mentoria é um processo conduzido por alguém que, preferencialmente já passou por diferentes experiências e carrega consigo um alto grau de sabedoria sobre um negócio, mercado, ou atividade. Em algumas organizações é possível, por exemplo, que um diretor se torne mentor de um gerente. Também pode ocorrer de a mentoria ser prestada por um profissional independente. Nesses casos, a relação entre mestre e aprendiz parte do uso de uma experiência consolidada para desenvolver novos talentos e potenciais.

Se você quer um solucionador de problemas, você não precisa de coaching, mas de consultoria. O consultor é o profissional recomendado para quando se busca uma resposta sobre o que fazer diante de um desafio. Seu trabalho identifica, observa e analisa os principais elementos da questão que se procura solucionar. A partir desta análise, ele propõe um conjunto de ações capaz de acabar com o problema e pode, inclusive, executar essas ações por si próprio. Outra possibilidade é que ele explique aos envolvidos o que deve ser feito em cada situação. Consultores podem ajudá-lo na constituição de uma empresa ou o desenvolvimento de plano de negócio, por exemplo. Mesmo se o seu problema estiver relacionado a algum aspecto da vida privada e você quer um modo de agir, você também não precisa de um coach, mas de consultoria em organização pessoal, estilo, boas maneiras etc.

Se você quer resolver uma questão relacionada a eventos passados, sejam eles de ordem física, psíquica e emocional, que por algum motivo o impede de trabalhar e se relacionar, talvez você também não precise de um coach, mas de um terapeuta. O foco de um processo terapêutico diz respeito ao entendimento, à elaboração e à ressignificação de questões subjetivas e inconscientes que bloqueiam sua expressão ou a convivência com determinadas pessoas ou grupos, ou ainda a capacidade de tolerância e superação de determinados eventos – ou todas essas coisas juntas.

Agora, se você quer encontrar em si mesmo os caminhos para dar conta de todos os desafios descritos acima, então é possível que você esteja em busca de um processo de coaching. Em inglês essa palavra quer dizer “treinamento” e é justamente isso: com a ajuda de um profissional (o coach) e encontros periódicos o coachee pratica novas formas de pensar, agir e sentir.

Um coach parte do pressuposto de que você é o especialista da sua vida. Não existe ninguém melhor para saber o que funciona e não funciona e quais seus verdadeiros anseios, medos, desejos; ou quais seus valores e princípios e o que trás motivação ou frustração.

Um coach não dá respostas. Ele faz perguntas.

A premissa é: você já tem todas respostas e, por algum motivo que será investigado durante o processo, não está fazendo uso dessa vantagem competitiva tão bem quanto poderia. Talvez nunca tenham lhe ensinado isso, ou ensinaram e você se esqueceu. Pode ser que você tenha se desenvolvido, mas continue se comportando como uma versão desatualizada de si mesmo. Ou então você ainda não parou tempo o suficiente para prestar atenção em si, para se ouvir, para entender seus próprios pensamentos, sentimentos e forma de levar a vida. É possível também que você até tenha feito todas essas coisas, mas por questões relacionadas a medo, insegurança, controle emocional, falta de clareza, entre outras, você escolheu não avançar. Pior, você escolhe recuar, atacar, se defender e dar a outrem um poder que bem poderia ser usufruído por você.

Como fazer uma pessoa pensar melhor por ela mesma e encontrar dentro de si todas as respostas que procura?

O processo de coaching permite que se aprenda o funcionamento desta dinâmica: qual pergunta eu preciso fazer para lidar com uma determinada situação? Quais perguntas eu tenho evitado fazer? Por que? Não raro um processo de coaching mostra aquilo que a pessoa não só tem dificuldades, mas também o que ela não quer ver.

As perguntas incomodam, mas descobrir, com a ajuda de um profissional, que para todas as perguntas há uma resposta interna é libertador. Cria-se um senso de empoderamento e protagonismo diante da própria vida. Quando isso acontece, percebe-se com clareza como, quando, onde e o quê precisa ser feito para implementar a solução alcançada. E nessa fase o coach apoia a construção e o planejamento de ações.

Assim como muitas pessoas dizem nos aplicativos de relacionamento que o objetivo delas é sair dali. O objetivo de quem faz coaching é sair do coaching, tornando-se assim o personagem principal das histórias por trás de suas conquistas.

Texto publicado originalmente na página da Lucila Lobo no LinkedIn

O ano em que fui amor, da cabeça aos pés

E quando meus filhos me perguntarem o que eu fazia durante a crise política de 2016-2017 vou responder que ouvi muitas vezes Gal, Gil, Caetano e Chico. Gonzaguinha, Taiguara, João Bosco, Elis.

Vou responder que voltei aos livros de história. Mais do que nunca 2016 foi o ano em que aprendi que quando não captamos a lição, ela se repete. E que ser repetente dói.

Vou responder que escolhi não acreditar no que assistia na televisão. Que apenas lia -na diagonal- alguns jornais. Que me encontrava na leitura de blogs, colunas e opiniões. Que a minha rede social preferida era o Twitter. E que curtia os vídeos tremidos e realistas do YouTube.

Vou responder que apesar de ser bem feliz me desdobrando em mil para me firmar no novo caminho profissional que escolhi trilhar, eu me realizava mesmo era escrevendo. Mas naquele tempo, infelizmente, escrevi pouco e com amor invejei a consistência e a consciência de escritores que se sabiam humanos, como Eliane Brum, Leandro Karnal, Antonio Prata e Duvivier. Por algumas vezes eles emprestaram palavras à minha alma.

Vou responder que ria do humor ácido e, porque não, pouco tolerante do Porta dos Fundos. E que me divertia com a cafonice escrachada e elegante do Xico Sá.

Vou contar que naquele ano as melhores baladas foram 0800 que como tentáculos de um polvo se espalharam pelos espaços públicos da cidade que escolhi cuidar. Direi a eles que sim, sempre existiu amor em São Paulo.

Que apesar de não ser um período de arroubos romântico-afetivos, eu me sentia amor da cabeça aos pés. Vou responder que naquele ano comecei a acreditar com todas as fibras do meu ser que o mundo é abundante, e que só não tem para todo mundo porque ilimitado é o senso de retenção; a ganância individual; a inconsciência; a ânsia por poder; o apego às conveniências e ao conforto. Mas que diálogos abertos, abraços apertados, trabalho incansável e olhares de sorriso são capazes de derreter os mais gélidos dos corações e de despertar o lado humano que habita em cada um de nós.

“Não se assuste, pessoa
Se eu lhe disser que a vida é boa
Enquanto eles se batem
Dê um rolê e você vai ouvir
Apenas quem já dizia
Eu não tenho nada
Antes de você ser, eu sou
Eu sou, eu sou, eu sou o amor da cabeça aos pés”
(“Dê um Rolê”.  Moraes Moreira/Galvão)

Provavelmente eles me perguntarão se eu era contra ou a favor do que acontecia. Responderei que entre um e outro acabei escolhendo ouvir meu coração. E ele me dizia para evitar o caminho do medo, da violência, do separatismo, do preconceito, da intolerância e da marginalização das minorias. Dele ouvia que “qualquer maneira de amor vale a pena, qualquer maneira de amor vale amar” – esqueci do Milton…

A mensagem do coração me incentivava a não me conformar, ter coragem e manter abertos os olhos de aceitação- especialmente com relação às regras de um jogo que muitos sangraram para que pudéssemos jogar. Rupturas bruscas são mesmo de partir qualquer coração. O meu queria permanecer íntegro.

Assim, poderei dizer aos meus filhos que apesar das turbulências e instabilidades de 2016, eu estava consciente e em paz.

E que na manhã em que celebrávamos a independência do Brasil meu maior desejo e intenção era que todos os brasileiros – eu, inclusive – pudessem livremente despertar suas consciências e se emancipar de todas as crenças e padrões mentais que nos desconectam e nos afastam uns dos outros.

Eles poderão me perguntar se eu não era sonhadora demais.
Ao que responderei sim, mas que não sonhava sozinha.

*Texto publicado originalmente no meu perfil do Facebook

A Relação Entre Ser Feliz e dar Cabo da Própria Sujeira

Simplicidade é a complexidade resolvida” (Constantin Brancusi)

Ontem assisti ao “Que Horas Ela Volta” e no lugar de ter a impressão de ser mais um filme que mostra o Brasil de dentro para fora, encontrei nesse ensaio sociológico, o Brasil mostrado de fora pra dentro. Se os Tropas de Elites I e II, Cidade de Deus, Central do Brasil, Bicho de Sete Cabeças, Abril Despedaçado, foram janelas para uma realidade que eu sabia que existia, mas cujos pormenores eu desconhecia, a cria de Ana Muylaerte teve o efeito contrário. Foi um espelho. Daqueles limpos com vidrex e que mostram, com precisão, a imagem de sempre. O reflexo que estamos carecas de conhecer e – quase sempre – temos resistência em confrontar.

Há cinco anos atrás li dois artigos que mexeram comigo. Daqueles que incomodam e que nos botam para pensar. Um escrito pelo Daniel Duclos e o outro escrito pela Adriana Setti. Ambos brasileiros residentes da Europa. Ele em Amsterdã, ela em Barcelona. Cidades e respectivos estilos de vida igualmente incríveis. Ambos defensores de hábitos mais simples, enxutos, espartanos até, independentes e… libertadores. Continuar lendo

Quando a Paz pede passagem à Justiça

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“O mais belo fruto da justiça; é a paz da alma” (Epicuro)

“O fruto da justiça será a paz; e a obra da justiça proporcionará tranquilidade e segurança eternas” (Isaías, 32:17)

“Hey joe,

O que o teu filho vai pensar

Quando a fumaça baixar?

(…)

Também morre quem atira”

(Hey Joe, O Rappa)

Quando estava na faculdade e o professor de Filosofia do Direito citou Epícuro, tive a impressão de ter entrado em contato com umas das verdades mais absolutas da vida. Parecia uma criança que tinha acabado de aprender a falar uma palavra nova. Citei essa frase nos mais diversos contextos: para falar de justiça social, de política, serviços públicos, investimentos, decisões judiciais e até para justificar posicionamentos pessoais bastante recentes.

Hoje – não hoje em dia, mas hoje, hoje, dia 24 de agosto de 2015 – eu ouso discordar.

Não só discordar, mas pensar justamente o contrário: a Justiça é que é fruto da paz. Não falo sobre qualquer justiça. Falo da Justiça que acomoda interesses, ao invés de os sobrepor. justiça que contrapõe interesses prolonga acertos de contas de uma equação que não fecha nunca. Continuar lendo