De volta às origens ou aprendendo a não saber

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“Não devemos deixar de viajar

E o final da nossa jornada

Será chegar ao ponto em que começamos

E conhecer o lugar pela primeira vez”
(T. S. Elliot)

 

Por mais contraditório que possa parecer, o conhecimento nos afasta do aprendizado. Em todas as circunstância em que presumi que já sabia, inviabilizei minha oportunidade de aprender.

Não foi diferente com a aniversariante de hoje. Continuar lendo

O Desafio de Viver (e ser feliz)

“Viver é muito perigoso… Porque aprender a viver é que é o viver mesmo… Travessia perigosa, mas é a da vida.

Sertão que se alteia e abaixa… O mais difícil não é um ser bom e proceder honesto, dificultoso mesmo é um saber definido o que quer, e ter o poder de ir até o rabo da palavra.”

(Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas)

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É engraçado, em algumas conversas, perceber o tom de desafio quando me perguntam: como assim ‘é difícil’? Você já não foi ali ser feliz?

Fui.

Mas só na conjugação verbal. Descobri que ser feliz, na verdade, é um estado de estar indo. É gerúndio e não pretérito perfeito. Ser feliz é processo em  infinita construção. Uma caminhada. Ser feliz é tarefa de uma vida toda porque nunca acaba. Sempre é possível ser um pouquinho mais. Continuar lendo

Você tem paixão pelo que está fazendo agora?

Por quase cinco anos essa pergunta me assombrou. Naquela época eu trabalhava em uma grande empresa, estava bem posicionada, era reconhecida pelos meus colegas, pares e chefes, a remuneração não era nada mal. Objetivamente eu não tinha nada do que reclamar.

Até que numa bela noite meu sossego acabou e eu assisti ao bendito videozinho “All Work and All Play” (?? clique no hiperlink para assistí-lo também).

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Quando a Paz pede passagem à Justiça

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“O mais belo fruto da justiça; é a paz da alma” (Epicuro)

“O fruto da justiça será a paz; e a obra da justiça proporcionará tranquilidade e segurança eternas” (Isaías, 32:17)

“Hey joe,

O que o teu filho vai pensar

Quando a fumaça baixar?

(…)

Também morre quem atira”

(Hey Joe, O Rappa)

Quando estava na faculdade e o professor de Filosofia do Direito citou Epícuro, tive a impressão de ter entrado em contato com umas das verdades mais absolutas da vida. Parecia uma criança que tinha acabado de aprender a falar uma palavra nova. Citei essa frase nos mais diversos contextos: para falar de justiça social, de política, serviços públicos, investimentos, decisões judiciais e até para justificar posicionamentos pessoais bastante recentes.

Hoje – não hoje em dia, mas hoje, hoje, dia 24 de agosto de 2015 – eu ouso discordar.

Não só discordar, mas pensar justamente o contrário: a Justiça é que é fruto da paz. Não falo sobre qualquer justiça. Falo da Justiça que acomoda interesses, ao invés de os sobrepor. justiça que contrapõe interesses prolonga acertos de contas de uma equação que não fecha nunca. Continuar lendo

♔ O Ser Brincante

“E se depois de tanto mimo

que o atraia, ele se sente

pobre, sem paz e sem arrimo,

alma vazia, amargamente?

Não é feliz.

 

Mas que fazer

para consolo desta criança?

Como em seu íntimo acender

uma fagulha de confiança?

 

Eis que acode meu coração

e oferece, como uma flor,

a doçura desta lição:

dar a meu filho meu amor.

 

Pois o amor resgata a pobreza,

vence o tédio, ilumina o dia

e instaura em nossa natureza

a imperecível alegria”

 

(Carlos Drummond de Andrade, Farewell)

Quando foi a última vez que você brincou? Não, não me refiro a ironias, sarcasmos, gozações ou tiradas de duplo sentido.

Quando foi a última vez que você se percebeu criança outra vez? Não, não me refiro a surtos de imaturidade e nem a xiliques de um ego esperneante que não consegue o que quer.

Quando foi a última vez que você gargalhou com vontade, dançou sem se preocupar se os movimentos estavam harmoniosos, correu por aí só porque teve vontade – sem tênis, sem frequencímetro -, pulou de pura alegria, disse coisas sem sentido pelo simples prazer de se divertir com o som das palavras? Continuar lendo