O despertador nem precisou tocar. Naquela manhã ela precisava correr. Correr da cama, dos lençóis e do travesseiro solteiro. Naquela manhã, ela precisava correr das manhãs em que despertava cedo, porque a noite parecia-lhe mais convidativa para dormir do que para ficar acordada. Continuar lendo
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De volta às origens ou aprendendo a não saber
“Não devemos deixar de viajar
E o final da nossa jornada
Será chegar ao ponto em que começamos
E conhecer o lugar pela primeira vez”
(T. S. Elliot)
Por mais contraditório que possa parecer, o conhecimento nos afasta do aprendizado. Em todas as circunstância em que presumi que já sabia, inviabilizei minha oportunidade de aprender.
Não foi diferente com a aniversariante de hoje. Continuar lendo
O Desafio de Viver (e ser feliz)
“Viver é muito perigoso… Porque aprender a viver é que é o viver mesmo… Travessia perigosa, mas é a da vida.
Sertão que se alteia e abaixa… O mais difícil não é um ser bom e proceder honesto, dificultoso mesmo é um saber definido o que quer, e ter o poder de ir até o rabo da palavra.”
(Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas)
É engraçado, em algumas conversas, perceber o tom de desafio quando me perguntam: como assim ‘é difícil’? Você já não foi ali ser feliz?
Fui.
Mas só na conjugação verbal. Descobri que ser feliz, na verdade, é um estado de estar indo. É gerúndio e não pretérito perfeito. Ser feliz é processo em infinita construção. Uma caminhada. Ser feliz é tarefa de uma vida toda porque nunca acaba. Sempre é possível ser um pouquinho mais. Continuar lendo
Você tem paixão pelo que está fazendo agora?
Por quase cinco anos essa pergunta me assombrou. Naquela época eu trabalhava em uma grande empresa, estava bem posicionada, era reconhecida pelos meus colegas, pares e chefes, a remuneração não era nada mal. Objetivamente eu não tinha nada do que reclamar.
Até que numa bela noite meu sossego acabou e eu assisti ao bendito videozinho “All Work and All Play” (?? clique no hiperlink para assistí-lo também).
A Relação Entre Ser Feliz e dar Cabo da Própria Sujeira
“Simplicidade é a complexidade resolvida” (Constantin Brancusi)
Ontem assisti ao “Que Horas Ela Volta” e no lugar de ter a impressão de ser mais um filme que mostra o Brasil de dentro para fora, encontrei nesse ensaio sociológico, o Brasil mostrado de fora pra dentro. Se os Tropas de Elites I e II, Cidade de Deus, Central do Brasil, Bicho de Sete Cabeças, Abril Despedaçado, foram janelas para uma realidade que eu sabia que existia, mas cujos pormenores eu desconhecia, a cria de Ana Muylaerte teve o efeito contrário. Foi um espelho. Daqueles limpos com vidrex e que mostram, com precisão, a imagem de sempre. O reflexo que estamos carecas de conhecer e – quase sempre – temos resistência em confrontar.
Há cinco anos atrás li dois artigos que mexeram comigo. Daqueles que incomodam e que nos botam para pensar. Um escrito pelo Daniel Duclos e o outro escrito pela Adriana Setti. Ambos brasileiros residentes da Europa. Ele em Amsterdã, ela em Barcelona. Cidades e respectivos estilos de vida igualmente incríveis. Ambos defensores de hábitos mais simples, enxutos, espartanos até, independentes e… libertadores. Continuar lendo
Isto ou Aquilo? – Sobre a arte de fazer (boas) escolhas
Nem é preciso sentir na pele o senso de desorientação por não saber o que se quer da vida ou espremer o peito, angustiado, por estar em um momento decisivo e não saber o que fazer, ou ainda, arrepender-se de morte diante de uma escolha consumada para saber que escolher é difícil. Dificílimo.Escolher é a arte de saber renunciar.